Notas |
- O Rui, conforme diz minha mãe (Ivone) morreu em Porto Alegre no período da perseguição da ditadura militar. Pelo jeito era socialista e foi pego pelos milicos.
Seu nome é reportado na lista dos desaparecidos...
http://www.torturanuncamais-rj.org.br/MDDetalhes.asp?CodMortosDesaparecidos=137
http://coletivomemoriaverdadejusticasc.wordpress.com/os-lutadores-de-sc/rui-osvaldo-aguiar-pfutzenreuter/
https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=328087563911397&id=184992854849689
http://br.groups.yahoo.com/group/DitaduraCivilnoBrasil/message/23769
- Mortos e Desaparecidos > Ruy Osvaldo Aguiar Pfützenreuter
Ruy Osvaldo Aguiar Pfützenreuter
Dirigente do PARTIDO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO TROTSKISTA (PORT).
Nascido a 3 de novembro de 1942, em Orleans/SC, filho de Osvaldo Pfützenreuter e Leonir Aguiar Pfützenreuter.
Morto aos 30 anos, em São Paulo.
Foi aluno do 1º grau no Grupo Escolar Costa Carneiro, em sua cidade natal. Estudou no Colégio São Rudgero e depois transferiu-se para o Ginásio Dehon, em Tubarão (SC), donde concluiu o curso ginasial. O científico foi realizado em Blumenau (SC). Mudando-se para Porto Alegre, formou-se em jornalismo e sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em dezembro de 1964.
Preso por agentes do DOI/CODI-SP no dia 14 de abril de 1972 e morto sob torturas nas dependências daquele órgão.
Trechos da carta de seu pai ao Presidente da República, general Médici, datada de 16/05/72:
-- Há dias fui avisado de sua prisão pela polícia política, em circunstâncias nebulosas pois nunca mais foi visto, estando pois desaparecido, desde que foi detido.
Em São Paulo... dirigi-me à operação Bandeirantes? e ao DOPS no dia 7 do corrente, onde me informaram: 'Nada consta!' ...Me dirigi novamente ao DOPS no dia 11, onde uma vez mais recebi uma resposta negativa e dali fui à OBAN, onde indignado e a angustiado faço um pedido dramático e em alta voz que me dessem notícias de meu filho, que ao menos reconhecessem sua prisão e que me dissessem quando poderia estar com ele. Nada quebrou a frieza dos funcionários, nenhum deles, e todos sabiam d da 'via crucis' em que havia se transformado minha vida, nenhum deles se dignou a dizer um a, uma orientação para localizá-lo, nada. Nenhum disse o que todos sabiam e que temiam e temem que seja público. Deste órgão (OBAN) me dirigi, numa últimima tentativa, ao Instituto Médico Legal, onde simplesmente me informaram que Ruy deu entrada (em linguagem clara, morreu) no dia 15 e no mesmo dia foi enterrado no Cemitério de Perus. A minhas perguntas... responderam simplesmente: 'Vá ao DOPS'. Para obter a autorização para retirar a certidão de óbito e a autorização para transportar o corpo para sua terra natal, um funcionário de nome Jair Romeu me deu um papel com o nome do delegado Dr. Tácito, do DOPS. No DOPS o Dr. Tácito me disse desconhecer o caso e que voltasse na próxima segunda-feira (dia 15). Na data indicada fui ao DOPS, o Dr. Tácito encaminhou-me ao Dr. Bueno, que me mostrou entre vários papéis a certidão de óbito e uma fotografia de meio corpo de meu filho depois de morto. Nesta foto aparecem duas nítidas manchas escuras.
Na certidão de óbito consta como causa da morte anemia aguda traumática, atestado assinado pelo Dr. Isaac Abramovitch. O que me causa muita estranheza, Sr. Presidente, é o fato de que o atestado não explica o motivo que causou a anemia. A isto se juntam os detalhes (manchas escuras que aparecem na foto). Eu pergunto: que tipo de tratamento teve meu filho antes de morrer ou o que é o mesmo, o que causou concretamente sua morte? Segundo estou informado de maneira limitada, a imprensa denuncia maus tratos a presos políticos, tenho sérias dúvidas se meu filho não foi torturado antes de morrer ou se não morreu exatamente em consequência delas...
... Tenho um passado limpo de serviços prestados à nação e a consciência limpa para exigir o castigo para os assassinos.
E se tomo a iniciativa de denunciar e usar todos os canais para castigar os responsáveis e conseguir dar a meu filho um enterro digno em sua terra natal, é para que amanhã outros pais não tenham que, amargurados e silenciosamente, enterrar seus filhos, como se fosse possível enterrar junto a seus corpos, suas ideias, suas lembranças e a força renovadora de sua juventude. Uma grande lição a vida me ensinou, e meu filho mais do que ninguém, a lição da solidariedade humana.?
Essa carta foi encontrada nos arquivos do antigo DOPS/SP, numa versão em espanhol.
Ruy, que fora enterrado no cemitério de Perus como indigente, graças aos esforços de seu pai, acabou tendo seus restos mortais trasladados para o jazigo da família, em Santa Catarina. Nesta ocasião, ainda sob o domínio da ditadura militar, a Câmara de Vereadores de Orleans, numa atitude corajosa, votou a lei que deu o nome de Ruy a uma praça daquela cidade. Na mesma época, os formandos da 1º turma de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Catarina o escolheram para patrono.
O Relatório do Ministério da Marinha afirma que Ruy ?foi morto em tiroteio com agentes de segurança em 15 de abril de 1972.? O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que ?em 15 de abril de 1972, em São Paulo, ao receber voz de prisão, sacou de sua arma e atirou na equipe de segurança, sendo ferido, mesmo assim conseguiu evadir-se, aproveitando a escuridão, porém caiu adiante, sendo conduzido ao hospital e falecendo no trajeto. O exame da necrópsia foi realizado pelo IML/SP, dia 26 de abril de 1972.? Portanto, 11 dias após sua prisão!
Declarações dos presos políticos Ayberú Ferreira de Sá e Almério Melquíades de Araújo, em Auditorias Militares, Ã época, denunciaram as torturas e morte de Ruy no DOI-CODI/SP.
Jornal A Noticia/Joinville 30/06/03
"A habilidade política do "trotskista posadista"
"Morrer. Morrer na cama: enfarte. Morrer no ar: desastre aviatório. Morrer do coração (...) Morrer ouvindo Bach, Mozart, preferentemente seu "Requiem" para louvar a vida. Morrer no hospital, sem ninguém. Abraçando a enfermeira, pedindo por amoor de Deus que seja mãe, amante, filha e amiga. (...) Morrer no campo de batalha. Morrer dizendo adeus para o inimigo que lutou sem saber por quê. Exclamando: amor. Morrer sem ver a paz, só a paz dos mortos. (...) Morrer sem viver. Mas viver para morrer: prazer para outros que compreenderão nosso morrer. (...) Morrer para que outros vivam. Morrer sem Mozart, sem Bach, sem amor. Mas morrer feliz: viverão Bach, irmãos, amor. Morrer dialeticamente."
(Poema escrito por Rui Pfützenreuter em 1964)
"Maturidade e conselhos sóbrios para a família são marca deste jornalista nascido no Sul do Estado"
Luis Fernando Assunção
"Estimado avô´...Nós nos encontramos em duas posições diferentes, impulsionadas pela situação histórica do meu e do vosso momento. De vosso lado, tudo é paz: as armas foram recolhidas, as tensões vencidas, os obstáculos transpostos, o caminho percorrido, missão cumprida. A geração que o senhor simboliza venceu e está realizada...Do outro lado, estou eu, o neto do avô´ que se realizou. Impõe-se agora o cumprimento do meu dever no momento histórico: desempenhar as missões reclamadas pelapelas necessidades da presente sociedade...O papel que devo desenrolar para a história está sendo desempenhado e este estimula minhas atitudes. No futuro, a juventude que viverá integralmente a moralidade de uma existência social saberá agradecer a resignação, as perseguições, o sacrifício que a juventude de hoje experimenta de cabeça erguida para servir que a do futuro venha melhor...Com suas bençãos, despeço-me...Rui, maio de 1964"
Rui Oswaldo Aguiar Pfützenreuter nasceu em Orleans, em 3 de novembro de 1942. Um dos seis filhos de Oswaldo e Leoni, Rui recebeu apoio integral da família para estudar. Depois de concluir o ensino básico na cidade natal, estudou em um ginásio do de franciscanos em Blumenau, o científico em Tubarão para depois seguir para Porto alegre, onde se formou em jornalismo e sociologia, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desde cedo se envolveu nas questões políticas e sociais e já em Porto Alegre participou de movimentos políticos estudantis. Era erudito. Gostava de ler muito, ouvir música clássica e sempre que podia buscava informações de sua família e de sua cidade natal.
Escrevia com muita facilidade. Depois de se formar em jornalismo, decidiu ir embora para São Paulo. Lá ajudou a organizar o Partido Operário Revolucionário Trotskista (Port) e foi um dos seus dirigentes. Era contestador em tudo que fazia e escrevia. Sempre que podia, visitava a família em Orleans e convidada a todos para sessões de audição de música clássica. Incentivava seus irmãos a estudar, ter formação mais erudita, abrir o pensamento para o mundo exterior. Também sempre fazia queestão de participar de alguns dias do veraneio da família em Laguna, em todos os janeiros.Em uma das fitas gravadas e preservada por seu irmão Rogério, Rui mostra todo o seu conhecimento sobre política nacional e internacional, além da invejável capacidade de contextualização, requisito essencial para exercer o jornalismo. Na gravação, que encaminhou para o pai em forma de "carta gravada", faz uma análise detalhada da questão política e social de Orleans, relacionando com a situação de Santa Catarina, do Brasil e do mundo. Como jornalista, tinha sempre a ânsia de conhecer em detalhes o seu quintal, de saber como estavam os acontecimentos políticos na sua terra e como isso poderia ser refletido na realidade vivida em São Paulo.
Sua linha foi cunhada a partir da obra do pensador argentino J. Posadas, que relacionou a política em diversos campos, como das artes, ciência e educação para crianças. Posadas era um dirigente teórico e político e organizador revolucionário de origem operária, nascido em 1912 e que adotava as ideias de Leon Trotsky. Se tornou um dos dirigentes trotskistas mais cultuados nas décadas de 60 e 70 na América Latina. Rui seguiu à risca suas ideias: dizia que a vida sem a luta pelo socialismo não teria sentido, com todas as suas conseqüências.
A habilidade política de Rui foi interrompida bruscamente com sua prisão em 14 de abril de 1972. Preso e levado ao DOI/Codi em São Paulo, foi morto sob tortura no período mais duro da ditadura, durante o governo do general Garrastazu Médici. A família chegou a ser comunicada da prisão. O pai, Oswaldo, viajou para São Paulo e verificou na ficha do filho um lacônico "nada consta". Resgatou o corpo depois de muita conversa com os militares. Rui foi sepultado na cidade que nunca esqueceu: Orleans. Ele morreu sem convencer pessoalmente o avô do texto da carta mostrada no começo deste texto: de que gerações diferentes sempre lutaram, com seus meios, por uma mesma bandeira: a da igualdade e justiça para todos.
Nome Rui Oswaldo Aguiar Pfützenreuter
Morto em 1972, em São Paulo.
Enterrado em Orleans.
Nascimento 1942, em Orleans, Santa Catarina
Profissão Jornalista
Militância Partido Operário
"O importante é difundir suas ideias e memória"
Curitiba - A música sempre fez parte da existência dos Pfützenreuter. Tudo era motivo para um som mais apurado. O patriarca Oswaldo não perdia a oportunidade de sacar seu violino e alegrar a casa. Os filho seguiram o mesmo caminho. O cultivo das artes musicais era um ponto de honra para a família, que se reunia na residência em Orleans para ouvir Mozart, Bach, Beethoven. Rogério Pfützenreuter, 49 anos, joalheiro - violinista e guitarrista nas horas de folga -, ainda guarda como tesouro os discos de vinil de compositores clássicos, comprados em 1962, Rui externava suas impressões e avisava os interessados em afanar suas obras. "Beethoven foi compositor da natureza, das forças do mundo e do homem. Cuidado com este disco!", escreveu à caneta na contracapa.
Rui sempre foi muito ligado à família, à sua terra, e por isso mesmo faz uma grande falta aos Pfützenreuter. Seu Oswaldo morreu alguns anos depois de encontrar os restos mortais do filho, mas antes passou por uma via crúcis entre a burocracia do regime militar. Esteve em São Paulo numa busca incessante por notÃcias do filho. Conviveu com ironias e indiferenças dos militares. "Ele é bom, mas precisa ficar na cadeia", disse certa feita um general a seu Oswaldo. Sua insistência foi recompensada: numa quinta-feira sombria de 1972, seu Oswaldo voltou para casa. Trazia junto o corpo do filho para ser enterrado em Orleans, no mausoléu da família.
Hoje seus irmãos fazem questão de divulgar as ideias de Rui. Mesmo depois de a família passar por tantas humilhações por ter um filho "comunista". "Infelizmente nossa democracia ainda não permite que muitas coisas ditas sejam divulgadas. Mesmo tantos anos depois", explica Rogério, que mora em Curitiba. "O importante agora é difundir suas ideias, sua memória, e não ficar fazendo busto ou nome de rua, praça ou viaduto", critica, em alusão a "homenagens materiais" que aconteceram depois do fim da ditadura.
Três irmãos vivem em Curitiba - Rogério, Roseris Maria e Regina Célia. Rudiney mora em Florianópolis, Reinaldo, em Blumenau. Somente Roberto Oscar continua em Orleans. Regina Célia tinha 12 anos quando o irmão morreu. Até hoje fala com orgulho de suas ideias e homenageou o irmão batizando o filho com seu nome. Rui, de 14 anos, também tem veias artísticas e parece ter herdado um pouco do espírito contestador do tio. Se diz contra o imperialismo e dá exemplo: não bebe Coca-Cola nem entra em lojas McDonald´s. "São heranças que ficam", concorda Regina Célia. (LFA)Revolucionário Trotskista (PORT)
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